o silêncio
o silêncio. poderoso e majestoso. ruidoso e calmante. o silêncio.
não propriamente um diário de vida, mas um diário de registos que aponto em bloquinhos de notas. pequenas frases, pequenos textos, pequenos desenhos. pequenos desastres e pequenos fragmentos de algo melhor..
crescer no deserto ao redor de montes de areia que me protege da visão dos outros, pura visão da vida onde a única cor é o amarelo em todos os seu tons e disfarces. moldar o meu corpo à areia, porque afinal a areia faz parte de mim. sou areia desde pequenos toques no meu cabelo até me afundar de perfeição em pequenos bagos aqui e ali que me dão contorno a tudo o que eu posso ser. pequeno dedo mindinho dum pé qualquer me ergue no ar até tudo mudar, até chover, até eu voar, até o vento fazer com que a areia me envolva das mãos aos pés, até que eu seja amarela noutro tom, até que a chuva me devolva a forma original a que me habituei a ter e não me larga nem por nada. até que o meu corpo seja amarelo tom de água.
e oiço e habituo-me
as pessoas crescem e nem se apercebem,
as palavras que eu gostava de dizer
há muito que tenho para te dizer uma coisa..
mandei-lhe uma carta,
se eu tivesse uma porta para abrir e fugir
gosto de fotos,
há pessoas que não têm força,
perdi a coragem
sinto-me sozinha..
foge sem fugir porque a fugir foges
olhei hoje para o céu
só a vida me passa ao lado
era uma vez, um dia feliz, uma hora triste, um minuto alegre, um segundo de sorriso teu, e aí tudo aconteceu, eu caí, eu me apaixonei, eu me perdi, eu me agarrei, eu me senti, eu vi a minha alma partir, no segundo a seguir foi o teu olhar, eu me sufoquei só para tu me beijares, só para tu me tocares, só para eu nascer, viver, só para eu ser-te..
eu sou nada,
bloqueias-me os sentidos
às vezes dava jeito ser criança,
eu tenho saudades de viver numa casa grande rodeada de arbustos que deitam um cheiro característico e libertador, que nos deixa uma paz interior e nos faz sentir os pulmões. eu tenho saudades de me deitar, à noite, na relva e ver as estrelas a brilhar como se cada uma delas me dissesse ”vem ter comigo”. eu tenho saudades de viver, de dormir, de ver o fogo a sorrir e a chuva a cair pelo meu corpo abaixo sem pedir autorização para me percorrer por inteira. eu tenho saudades de ser, ter aquilo a que já me tinha habituado a ter, e de não ter aquilo a que já me tinha habituado a não ter. eu tenho saudades de mim, de ti, de nós!! eu tenho saudades do que nunca tive.. e do que nunca vou ter!